A conclusão do levantamento de arte rupestre

Ilha de Santa Catarina

TRACCE no. 11 – by Rodrigo Aguiar


A conclusão do levantamento de arte rupestre (parte **) na Ilha de Santa Catarina e ilhas adjacentes – Brasil.
Os petroglifos sofrem constantes agressões, que vão desde caminhar pôr sobre as inscrições, riscar o petroglifo com um pedaço de pedra, pichações com tinta óleo… .


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Petroglyphs with final fine touch in two polishing levels. Green arrow - 1º level, blue arrow - 2º level.

Petroglyphs with final fine touch in two polishing levels. Green arrow – 1º level, blue arrow – 2º level.

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As formas de agressões

Os petroglifos sofrem constantes agressões, que vão desde caminhar pôr sobre as inscrições, riscar o petroglifo com um pedaço de pedra, pichações com tinta óleo; até explodir os paredões cobertos de petroglifos na busca de tesouros (Rohr1969) – muitos caçadores de tesouros acreditam ser os petroglifos indicações feitas pôr piratas, evidentemente nunca encontraram qualquer tipo de tesouro pôr detrás dos paredões rochosos.

Os Dados do Levantamento

O levantamento resultou na catalogação de 564 gravações, agrupadas em 32 sítios dispostos em 14 localidades. Destas 564 gravações, 2 provém das localidades da Praia da Joaquina e Praia da Armação do Sul, que são sítios extintos cujos petroglifos estão no Museu do Homem do Sambaqui.

Formação rediforme. Pontos e círculos dentro de suas malhas podem representar o pescado

Quanto a técnica de confecção, 522 símbolos foram feitos pôr polimento (92,7%), 36 pôr picoteamento (6,2%) e 6 (1,1%) com as duas técnicas de confecção.

Não há um padrão de distribuição, podendo os petroglifos estarem tanto em blocos horizontais como em verticais.

Encontram-se todos na faixa litorânea externa, com exceção do sítio do Caminho dos Reis, uma trilha que liga a Praia da Galheta à comunidade da Barra da Lagoa .

Curiosamente, percebeu-se que as inscrições com sulcos mais finos (na faixa de 1 a 1,8 cm) geralmente apresentavam um maior desgaste do que as de sulcos mais grossos (acima de 2 cm). A maior profundidade de sulco foi 8 mm, porém a grande maioria estava na faixa de 1 mm. A superfície de gravação varia de petroglifos com 10×10 cm à painéis com mais de 5m metros de comprimento, coberto de símbolos.

Podem estar tanto no chão de abrigos sobre rocha, como em platôs com altura superior a 8m do chão. Porque que alguns ficavam praticamente escondidos enquanto que outros poderiam ser vistos do mar conforme se costeava a ilha? Esta é uma das perguntas que ainda permanece sem resposta.

O elemento predominante é o círculo, com um total de 218 gravações; em seguida, vem as variações de linhas onduladas e zigue-zagues, com 62 gravações; e, na seqüência, as variações em ângulos obtusos, com 41 gravações. Temos ainda as séries de triângulos e representações antropomórficas como figuras que aparecem com menos intensidade, porém, em diversos sítios.

Petroglyph from an extinguished site of Joaquina Beach. Example of variation in obtuse angle.

Petroglifo do sitio extinto da Praia da Joaquina. Exemplo de variação de linhas em ângulo obtuso

Aparentemente, não há dados que possam comprovar com clareza um diacronismo seguido de diferenciação estilística sistemática, mesmo porque foram poucas as sobreposições a serem analisadas.

Em uma primeira análise, pertencem todos ao mesmo estilo (geométrico abstrato), com exceção dos petroglifos do segundo sítio da Praia da Galheta, que são compostos pôr linhas irregulares de forma livre.

A percepção estilística aplicada nos petroglifos varia desde motivos picoteados simples, sem maiores caprichos, até outros com refinado acabamento em dois planos de polimento.

Comparative board betwen petroglyphs and ornamental motives of carijó painted pottery. Nº1 - Santinho Beach. Nº2 - Corais Island.

Quadro comparativo entre petroglifos e motivos decorativos da cerâmica pintada carijó. Nº1 – Praia do Santinho. Nº2 – Ilha dos Corais

A semelhança dos petroglifos com elementos culturais das 3 tradições

Até o presente momento, não se pode afirmar qual cultura (ou culturas) é responsável pôr essa manifestação rupestre. Se analisarmos os elementos culturais das 3 tradições (caçadores e coletores, itararé e guarani) percebemos que qualquer uma delas poderia ser responsável pela confecção dos petroglifos.

A pintura corporal está presente nas três tradições. Os caçadores e coletores possuem ossos de baleia entalhados com motivos geométricos (porém, achados em sambaquis na cidade de Laguna, localizada mais ao sul do Estado). Certos elementos presentes na tradição itararé também sugerem semelhanças, como as habitações circulares e os adereços fusiformes. Apesar de, infelizmente, ser a menos pesquisada, a tradição guarani (carijó) é a que apresenta os vestígios mais propícios para uma análise comparativa: a cerâmica pintada, onde alguns elementos são muito semelhantes aos representados nos petroglifos.

Com tão poucos dados sobre estas 3 tradições, torna-se arriscado tentar interpretar tais símbolos. Talvez futuras pesquisas na área tragam à luz elementos mais propícios para uma tentativa de interpretação dos símbolos e correlacionamento entre às tradições e os petroglifos.

Se arriscarmos alguma inferência, podemos relacionar alguns elementos com a pesca. As formações rediformes podem ser associadas a redes de pesca, e alguns círculos e pontos que aparecem dentro de suas malhas podem representar o pescado. As séries de pontos podem estar relacionadas à alguma espécie de contagem, talvez fases da lua, que é referencial para os períodos de pesca.

Com esse material levantado, espero que, no futuro, outros possam se valer do mesmo para pesquisas mais aprofundadas e, quem sabe, descobrir quem foram os autores dos petroglifos da Ilha de Santa Catarina e que mensagens estariam nos passando através do tempo.

 

Rodrigo Aguiar
Rua Álvaro Cardoso No 47
Estreito – Florianópolis
Brasil


Agradecimento

Meus sinceros agradecimentos às pessoas que contribuíram de forma marcante e definitiva para a realização desta pesquisa:

  • dr. Andrea Arcà
  • sr. Alexis Acauan Borloz
  • sr. Edmar Hoerhan
  • dr. Alceu Ranzi
  • srta. Roseneide E. Furtado
  • E minha família

Referências Bibliográficas

ARCÀ, Andrea & FOSSATI, Angelo. 1997. Tracing The Past. TRACCE: On Line Rock Art Bulletin Nº 5.
BECK, Anamaria. 1972. A Variação do Conteúdo Cultural dos Sambaquis – Litoral de Santa Catarina. São Paulo: Tese de Doutoramento, USP.
METRAUX, Alfred. 1948. The Guaraní. Handbook of South American Indians. Vol. 3 – The Tropical Forest Tribes. Washington: Government Printing Office.
PIAZZA, Walter A. 1965. O Sítio Arqueológico do Rio Tavares. São Paulo: Separata da Revista Dédalo Nº 2.
ROHR, João Alfredo. 1958. A Jasida da Base Aérea de Florianópolis. Pesquisas Nº 8. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas.
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ROHR, João Alfredo. 1962. Pesquisas Paleoetnográficas na Ilha de Santa Catarina e Sambaquis do Litoral Sul-Catarinense – Nº4. Pesquisas Nº 14. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas.
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SCHMITZ, P.I.; DE MASI, M. A.; VERARDI, I.; LAVINA, R.; JACOBUS, A. L. 1992. Escavações Arqueológicas do Pe. João Alfredo Rohr – O Sítio Arqueológico da Armação do Sul. Pesquisas Nº 48. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas.
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